quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Precisava conversar. Só vim por isso. Só pra falar e falar. Mesmo que ninguém escute é bom falar. Mesmo que seja pra mim mesmo é bom falar. Falar sobre tudo e nada, não separados, mas juntos. Um dentro do outro. Um pelo outro. Não na ausência de um e na presença do outro, mas no equilíbrio dos dois. Eu fico impressionado como eu tenho a capacidade de me impressionar com coisas pequenas. Com coisas normais. Eu mudo quando eu vejo essas coisas. É bom ver essas coisas.
O cotidiano só se torna enfadonho pelo fato de não conseguirmos enxergar a beleza das coisas que vemos todo dia. Nós passamos por corriqueiras sem saber o porquê disso, mas continuamos passando e não nos deparamos com a beleza do dia-a-dia. Acordar, por exemplo, já se pensou como seria a vida se fosse só dormir? Portanto, acordar é belo. Assim como o adormecer também o é. Mas seria muito mais belo se eu pudesse adormecer e acordar ao mesmo tempo. Eu não sei exemplificar como isso acontece, até porque quando eu acordo, por consequência, deixo de dormir, mas não duvido que os dois juntos seriam maravilhosos. Exemplo disso é a noite e o dia. Um nasce e outro se esvai, mas existem os eclipses, descontinuidades na rotina, quando a noite se sobrepõe ao dia e esse não deixa de ser dia mesmo estando escuro. Fenômeno brilhante esse tal desse eclipse, se Deus existe, com certeza está presente no eclipse. E eu sempre digo para mim: não sou ateu. E, realmente, não sou. Mas eu não queria falar de filosofia, porém, é impossível. Não se pode fugir de uma coisa que está dentro de si. Está dentro de nós, porém, não gostamos do cotidiano, aliás, não o reparamos, não nos assustamos com as coisas corriqueiras e filosofia é isso: praticar o espanto com as coisas do dia-a-dia. Os céticos e cientistas sempre procuram uma explicação mensurável para toda pergunta de cunho filosófico. Exemplo: o que é a água? H2O, basicamente. Mas isso em apenas 99% dos casos, o outro 1% é que é fantásticos. Já pensou no dia em que água vai deixar deH2O? Eu não posso afirmar que ela vai ser assim pra sempre. Eu não sou pra sempre. O homem muda a cada instante, basta respirar que já se é uma pessoa diferente daquela do segundo anterior. E toda essa mutação é fantástica, diria eu. Mesmo relutando em aceitar. Ser mutante é o que há de mais esplêndido quando se trata de nós, humanos. Eu não sei se era sobre isso que eu queria conversar. Uma pausa. Vou me perguntar. É, eu não sei se eu quero mais falar nada. E isso é fantástico. Eu entrei aqui com a necessidade de falar, agora, passado alguns minutos apenas, essa vontade foi pra um lugar que não sou eu.
"Não pode banhar-se duas vezes no mesmo rio" Heráclito de Eféseo.